21 de mai. de 2013

INCONSTÂNCIA



O quarto estava gelado. Era escuro e não tinha companhia. Em alguns momentos, pensava em se haveria facilidades. O desgosto causado pelo acúmulo de medo me transformara a cada segundo. Não sei se sairia viva dali. Era calmo; tudo parecia estar sonolento. Havia poças de água, nas sombras projetadas pela janela. Uma luz amarela circulava por ali. Minha mente já estava inquieta demais e não sabia como lidar com toda aquela tensão. Eu estava sentada em uma cadeira feita de madeira, e podendo dizer, velha até. Ficava de frente a uma porta de ferro. Ouvia os pingos de água caindo no fim do corredor. O coração acelerava. Eu começava a entrar em uma espécie de pânico. Ficava na dúvida, não sabia se saia ou se imaginava sair.

Eram segredos. Segredos pequenos que tentavam me acorrentar, e sem saber aonde chegar, eu começava a perambular em estradas sem caminhos. Ficava sem saber, sem imaginar o motivo. Nada se movia. Meu telefone tocava. Lutava com aquela corda que amarrava minhas mãos. Era impossível atender ao telefone. Talvez houvesse um resto de vida algumas horas depois. 

Uma janela se abria. O barulho fazia meus pelos dos braços se arrepiarem. Me contorcia naquela cadeira. Frio na barriga. Eu não podia gritar. Existem silêncios que são mais fortes que pessoas. Nada entrava no quarto. O frio ainda me causava agonias. Um caos tomou o meu corpo por quinze minutos. Contei as progressões e refiz meus cálculos. A culpa foi por causa da dor. Horas antes, lembro-me de ter tomado remédios. Não fazia sentido naquele momento.

As gotas de água continuavam pingando no fim do corredor. Sem pânico agora, Maria. Fiz de conta que tudo passou. Mentira. A realidade sempre vai acabar destruindo fantasias, e eu era a prova disso. Nada aconteceu durante as próximas duas horas. Eu já sentia fome e cansaço. Meus pés estavam adormecidos e úmidos. Havia água onde eu estava, e fedia. Talvez houvesse algum animal morto por ali, ou, qualquer coisa do tipo.

Meus olhos estavam roxos porque tinha perdido a última noite de sono. Eram 3:07h e o frio estava introduzindo o perfume da morte em mim. Estava sem casacos, sabia que iria morrer. Minha consciência me alertava que faltavam poucos minutos. Eu não fazia ideia de onde estava. Era um quarto. Um quarto, que, em muitas das vezes não é seu e você acaba tomando posse dele.


(Matheus Carneiro)

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