Série: Implicações.
Acompanhe: Texto II - EllenNão tinha fim. Parecia me dominar. Todo aquele escuro e passageiro sombrio que habitava dentro de mim. E por que não cuidar do lado de fora? Não fazia sentido todas aquelas noites apagadas; muito menos as acesas. Eu perdia o sentido em meio às desgraças diárias. Nada fazia sentido depois de tudo. Minha mente bagunçada tentava se recompor dentro de segundos. Respirava. As lembranças de um clima tenso e suas fumaças numa manhã de sol ainda eram capazes de me manter acordado. O motivo? Talvez fosse o acidente. Ou, melhor dizendo, o que o causou e o que estava lá.
A minha vida estava tranquila,
pacata. Nada me fazia parar ou ao menos ter medo. Mas qual o motivo do medo?
Por que usar o medo aqui? Sei lá, só me era estranho. Depois de algumas
semanas, consegui desenvolver a capacidade de manter-me afastado. Era algum
tipo de dor, ou barreira. Logo pela manhã, a fumaça do primeiro café depois do que aconteceu e panquecas, mesmo não querendo, tinham a capacidade de me fazer sentir melhor a brisa que vinha da janela em
dias como aquele. Era outra manhã, daquelas, sabe? Daquelas em que em que são
desnecessários os comentários. Me ajeitei na cadeira, e como se não houvesse
mais ninguém na casa, eu comi. Ao mesmo tempo, mantinha os meus olhos em cada
canto daquela cozinha. Os móveis de madeira antiga, a geladeira e até mesmo o
fogão não escapavam. Eu mentalizava. Era estranho, eu me sentia assim. Era?
Meu café já estava quase no final
quando ela me olhou de canto e disse:
- Filha, vai pro colégio hoje?
- Não quero mãe. Me sinto cansado
ainda e não tive sono noite passada. – Menti quando disse que me sentia casado.
Talvez ela pensasse no físico. Eu até queria ir para o colégio, mas alguma
coisa naquela manhã me pedia pra ficar. Eu não sei o porquê, mas, ir ao colégio
em tempos como estes, esfriavam a minha cabeça. A maioria das pessoas, talvez,
pensaria o contrário.
- Quando terminar o café, leve
esses biscoitos para sua avó. Estou saindo. – Saiu às pressas quando percebeu
que estava atrasada para o trabalho. Eu continuei instável. Não disse uma
palavra. Balancei a cabeça como de costume e segui em frente. Não era lá o
melhor café da semana.
Me joguei no sofá e tentava me
recompor. As mudanças acontecerem em dias estabilizados. Eu não tinha
desenvolvido ainda a capacidade de aceitar as coisas. Ligava uma música no
iPod. Tentava imaginar as fugas e prisões. Ou seria o contrário? Toda aquela
nuvem sufocava o telhado da casa velha em uma cidadezinha do interior.
Complicações faziam parte. A vida ditava as regras. Não me movia, e de certa
forma, os sentidos se tornavam um breu em manhã cinzenta. Sofria mutações sem mesmo
ter a noção dos estímulos. Criava fantasias sem mesmo perceber a dor que elas
causavam.
Continua.