23 de mai. de 2013

O TÚNEL


Continuei rastejando sem derramar uma lágrima. Meus joelhos estavam cortados e deixavam rastros de sangue no caminho. Minhas mãos já tinham calos. Meu cabelo comprido estava sujo de lama, já que caí naquela poça antes de entrar aqui. Ouvia de longe gotas de água no fim. Me parecia ser um túnel vazio. Na verdade, encontrei um ou dois ratos no início. Meu coração não parava de se apressar. Era tenso. Respirava fundo para esmagar a pressão. Não existia calmaria.

Sentei. O medo ainda liderava a corrida. Ouvia latidos e sabia que não podia parar. Meu corpo gritava. Eu não tinha aonde mais sufocar minha mente. Liberava adrenalina pelas narinas. Passava a mão no rosto e limpava os olhos sujos de lama. Quase não sentia os dedos das mãos. O túnel fedia. Deveria ser algum tipo de esgoto. Eu não me importava e também não era o momento. Sentia o seu cheiro, sabia que estava próximo.

- Rápido! – berrava.

Comecei a engatinhar mais rápido, sem pensar duas vezes. Ouvia os latidos e corria. O coração disparava. A tensão era maior. Eu não sabia o que se passava do lado de fora. Não havia nenhuma luz no fim, apenas o barulho daquelas gotas que pingavam sem parar em um curto intervalo de tempo.

Puxava meu pé. Eu chutava de volta. Sentia uma faca cortando minha calça e gritava. Gritei alto! Berrei! A fazenda poderia ouvir os destroços. Chutava de volta e não largava. Era um homem, eu sentia. Minhas mãos deslizavam na lama procurando algo para se apoiar, e meu rosto rastejava, sendo cortado, sentia dor. Ouvi três tiros. Não senti mais a faca rasgando o jeans. Fui largada. Me sentia livre.

Continuei engatinhando. Não fui cortada, mas a calça estava partida pelo meio. Olhei para trás, mas não deu para ver nada além de um homem careca. Não tinha rosto e nem nome. Não senti seu sangue. Não havia mais latidos do outro lado e nem passos. Não sentia mais nada. Eu sentei em algum lugar e ofegava. Era intenso e me abraçava. Queria sentir calor.

Qual o motivo de rasgar minha calça sem arrancar meus pés? O que se passava em querer o jeans? – pensava. As gotas não paravam de cair e criavam zumbidos nos meus ouvidos. Meus joelhos estavam cortados e o sangue não parava de jorrar. Não sentia dor e não fazia sentido. Ouvi passos numa grama molhada. Prendi a respiração por alguns segundos e fiquei imóvel. Eu ainda conseguia avistar o corpo do homem em alguns metros de distância.

Em segundos, vi que o corpo dele estava sendo arrastado. Entrei em pânico. Não conseguia sentir mais nada. Meu corpo não vibrava mais. Minhas mãos estavam sujas com unhas cheias de terra. Não enxergava direito por conta da escuridão. Aos poucos, vi o corpo sumir de vista. E a instabilidade voltou. Não tinha forças pra caminhar. Esperar doía, e o cansaço também.

Continuei seguindo em frente, devagar. Senti que havia mais lama e fedia mais. Caí por cima dos meus braços. Meus olhos estavam exaustos. O pânico já me tinha consumido os meus batimentos. Era frio. Não sentia os meus dedos das mãos. Senti alguém me puxando para fora. Tentei manter os meus olhos fixados. Apaguei. 

(Matheus Carneiro)

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