Estive pensando nos antecedentes.
Fiquei confuso. Nada de pânico agora, nada de urgências. A primeira cadeira
estava vazia Sentei, sem muita pressa. Cruzei as pernas e fechei os olhos. Dali
para frente, era só esperar as cortinas se abrirem. A vida escondia surpresas depois das portas. Percebi que só pelas falas eu
sentia o caos. Era intenso, sem muito charme. Gostava do apego até. Nada de
muito açúcar no café. Comecei a suar e percebi que o resto do pessoal também. A
sala começou a encher e as agonias começaram. Era a primeira vez. Eu não sabia
me controlar.
Resolvi voltar pra casa.
Levantei, pedi licença ao pessoal da fileira e apertei o passo. Saí pelas portas grandes de
vidro, e voltei a pé. Comecei a andar por uma avenida movimentada com luzes
amarelas e vermelhas. Lojas ainda abertas e pessoas agasalhadas. Mentes vazias,
e outras, preenchidas demais. A chuva começou. Tratei de procurar um abrigo. Minutos depois, estava ensopado.
Continuei caminhando sem pensar muito. Sem guarda-chuva, avistava rostos um tanto parecidos.
Alguns, velhos demais para a rotina que levava. As buzinas eram as culpadas de
todo aquele trambique.
Cheguei em casa. Molhado, sem
resfriado. Era uma noite fria de Natal. Me joguei no sofá velho e fechei os olhos. Não enxergava nada além
de vibrações estranhas. Nada daquilo havia acontecido antes, ou, daquela forma.
Minha mente continuava presa em algum tipo de perfume. Era barulhenta. Eu não conseguia
guiá-la a um caminho menos pedregoso. Resolvi fazer um chá. Ler um
livro talvez me causasse menos insegurança. A casa antiga me recordava de
tempos em que não era necessário tantas luzes numa noite só. Queria manter o
controle das fantasias, afinal, falando sobre noites, era o que sobrava depois
do chá.
(Matheus Carneiro)