Subi devagar aqueles três degraus
escuros. Dei um bom dia ao motorista e passei pela catraca. Aquele barulho me
causava agonia. Me sentei quase no fundo. Coloquei minha mochila no colo, abri
um pouco mais a janela e me ajustei. Liguei uma música no celular e fiquei
observando a estrada no decorrer dos minutos seguintes.
Comecei a imaginar estradas mais
largas, ou até, quem sabe, motoristas melhores. As janelas poderiam ajudar
a encontrar olhares mais densos. Talvez eu até flutue um pouco por cima daquele
verde. Volta e meia a SMS chegava e eu sentia que vibrava. Resistia e tentava compreender os pingos
de chuva que invadiam meu rosto pela janela. Segui os longos quinze minutos molhada.
Limpava o rosto e sorria. Observava minhas sardas e começava a achar que eram
um charme. Um dia elas fariam a diferença, quem sabe.
A neve cobria as laterais. Tudo estava menos confuso e eu
concordava com isso. Desde a minha mudança, eu arrumava formas e
meios para me acostumar com tantas mentes barulhentas. Preferia o silêncio. Lugares
cheios me causavam arrepios. Preferia algo mais quieto onde eu pudesse ter o
controle. Mudava a música e aumentava o volume. Respirava fundo ao passar em
frente a um lago, onde patos viviam o seu paraíso gelado. Eu corria riscos. Naquela
manhã, depois do café, eu já previa as besteiras.
Duvidava das capacidades que possuía
e tremia novamente. Ainda doía e estava sem o controle. Era escuro, sem caos.
Parecia mais como aquela montanha que eu enxergava no horizonte enquanto escutava o barulho que o motor fazia. As árvores a
cobriam, assim como os meus cobertores em dias inseguros. Os meu travesseiros
eram como as nuvens em dias cinzentos. Um pouco gelados até. O ônibus parava e
eu descia. Ao pisar naquela estrada e chutar algumas pedras, entendia que,
apesar do congestionamento, eu poderia tomar o controle em caminhos
desconhecidos.
(Matheus Carneiro)