29 de mai. de 2013

CONGESTIONAMENTOS


Subi devagar aqueles três degraus escuros. Dei um bom dia ao motorista e passei pela catraca. Aquele barulho me causava agonia. Me sentei quase no fundo. Coloquei minha mochila no colo, abri um pouco mais a janela e me ajustei. Liguei uma música no celular e fiquei observando a estrada no decorrer dos minutos seguintes.

Comecei a imaginar estradas mais largas, ou até, quem sabe, motoristas melhores. As janelas poderiam ajudar a encontrar olhares mais densos. Talvez eu até flutue um pouco por cima daquele verde. Volta e meia a SMS chegava e eu sentia que vibrava. Resistia e tentava compreender os pingos de chuva que invadiam meu rosto pela janela. Segui os longos quinze minutos molhada. Limpava o rosto e sorria. Observava minhas sardas e começava a achar que eram um charme. Um dia elas fariam a diferença, quem sabe.

A neve cobria as laterais. Tudo estava menos confuso e eu concordava com isso. Desde a minha mudança, eu arrumava formas e meios para me acostumar com tantas mentes barulhentas. Preferia o silêncio. Lugares cheios me causavam arrepios. Preferia algo mais quieto onde eu pudesse ter o controle. Mudava a música e aumentava o volume. Respirava fundo ao passar em frente a um lago, onde patos viviam o seu paraíso gelado. Eu corria riscos. Naquela manhã, depois do café, eu já previa as besteiras.

Duvidava das capacidades que possuía e tremia novamente. Ainda doía e estava sem o controle. Era escuro, sem caos. Parecia mais como aquela montanha que eu enxergava no horizonte enquanto escutava o barulho que o motor fazia. As árvores a cobriam, assim como os meus cobertores em dias inseguros. Os meu travesseiros eram como as nuvens em dias cinzentos. Um pouco gelados até. O ônibus parava e eu descia. Ao pisar naquela estrada e chutar algumas pedras, entendia que, apesar do congestionamento, eu poderia tomar o controle em caminhos desconhecidos. 

(Matheus Carneiro)

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