27 de mai. de 2013

DUALISMOS


Coava o café que aparentemente parecia agradável. Não havia ninguém em casa. Tentava encontrar algum meio de abrigo. A fumaça do café me levava em dimensões menos tensas. Sentia o vento do inverno de Julho surgir em meio ao nada. A porta da cozinha que estava aberta se fechava numa força enorme. A ventania surgira na metade da xícara de café. 

Levantei, serenamente e fechei a porta. Parei por alguns segundos em cima de um tapete velho e segurei a respiração. O caos de um domingo tentava me domar. As coisas aconteciam e depois, sumiam. Digo que o café estava amargo. Coloquei mais açúcar em esperanças que foram destruídas. Subi as escadas e fui para o quarto. Me sentei numa cadeira antiga de madeira. Apoiei minhas pernas em cima da cama bagunçada e fiquei observando a árvore congelada do lado de fora. Aquele frio dominava as mentes caóticas.

Nada parecia fazer sentido. Era possível ouvir os galhos arranhando a janela. Olhei para o lado e tive a certeza de que o inverno chegou solitário. Ergui as mãos e alisei as mesmas na tentativa de mantê-las aquecidas. Em meio a todo aquele silêncio, meus únicos companheiros deveriam de fato ser um suéter xadrez e um velho disco do Elvis. O quarto parecia se escurecer, levantei vagarosamente em direção a uma mesinha repleta de papeis misturados e velhos. Eram alguns de meus pensamentos complexos e condensados. Relutei contra mim por alguns instantes. Aquele momento monótono consumia cada segundo da minha respiração. Talvez não fosse medo, mas sim carência. Como morfina, as lembranças foram se acomodando em mim. Lapsos de loucura me agarravam. Foi aí que me rendi.

Larguei o café junto a mistura de papéis. Me enrolei na cama e fechei os olhos. Por um momento, imaginei minha mente sem curvas. Era mais difícil errar o caminho quando seguisse um curso só. Tentei driblar os suicidas e os engraçados. Minhas costas coçavam. Coloquei as meias nos pés e aumentei o volume da música. O silêncio daquela casa já era o suficiente pra ilustrar as fantasias

(Matheus Carneiro e Juliana Rodrigues)
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